Lágrimas
Há tempos em que tento chorar
Como gostaria de chorar
Mas nem vontade há
Anestesiada
Ou desolada?
Mas ainda há a minha garrafa
Com uma boca para ali ser derramada
Cada lágrima
Que ainda virá
E me aliviará
Lágrimas de angústia
Tristeza
Lágrimas de alegria
Como memorial em Suas mãos
Também como troféu se levantará
Como forma de te honrar
E de me colocar
No melhor lugar.
Esta poesia acima foi inspirada no Salmo 56. Este Salmo é um cântico de Davi, que derrama a sua queixa nos dias em que os filisteus o prenderam em Gate (essa história pode ser lida em 1 Samuel 21 a 27). Ele declara a sua confiança em Deus diante do medo e agradece ao Senhor quando consegue escapar. Mas o que me chamou a atenção no texto foi um versículo específico, na minha opinião, tão profundo:
“… recolhe as minhas lágrimas no teu odre; …”
Salmos 56:8 NVI
Fiquei a imaginar uma garrafa. A minha garrafa. A figura de um odre mais contemporâneo. A garrafa cor de rosa, que fica ao lado da cabeceira da cama e que comporta os 2 litros de água que sonho em conseguir beber todos os dias. Fui levada a imaginar também Deus ali, ao meu lado, assistindo de perto cada lágrima que já derramei, e que poderia, certamente, já tê-la preenchido. Quem sabe até Ele a vê transbordar, para então recolher cada lágrima derramada. Foi bonito de imaginar, porque a fé é justamente isso: a imaginação que nos leva a viver as melhores experiências com o Pai. Por acaso, naquele dia em que escrevia a poesia, não era um dos melhores dias. Sentia-me aprisionada por sentimentos e pensamentos, sem conseguir derramar uma lágrima sequer. E derramá-las era o que eu mais queria.
Ao mesmo tempo em que as lágrimas são as minhas mais profundas expressões de dor, elas também me levam à liberdade e ao júbilo. A dor cessa. Vem o alívio. Se fosse como Davi descreveu, ter uma garrafa seria incrível!
Em minhas leituras, pude perceber que desde a antiguidade há culturas que praticam o ato de guardar as lágrimas derramadas, principalmente no Oriente Médio. No luto, na despedida de alguém que vai para a guerra, lágrimas por um doente ou em meio a uma grande angústia, uma garrafa cheia de lágrimas torna-se um memorial do sofrimento. Quem sabe até, um memorial da vida. Assim como as rugas que já surgem em minha face, essas são as marcas do que vivi.
Enfim, Davi desejou que Deus cuidasse das suas lágrimas. Sábias e humildes palavras ele clamou ao Criador. Assim também desejo eu. Que a cada lágrima o Senhor possa lembrar-me de que ao meu lado Ele sempre estará.
Palavras escritas para hoje:
“Registra, tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em teu livro?”
Salmos 56:8
Escreva para viver melhor:
Quais têm sido as suas recentes lágrimas? De tristeza ou de alegria? Imagine que tenha que escrever o motivo de cada uma dessas lágrimas para que elas sejam derramadas na sua garrafa e, assim, recolhidas por Deus. Faça esse exercício. Descreva com detalhes. Quem sabe até mais lágrimas serão derramadas por ti.